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"Elas não estão sozinhas"

Integrante do coletivo “Das Minas Gerais” fala sobre vivências das mulheres no Rap

Conhecido em Uberlândia como DMG, o coletivo feminino de Rap “Das Minas Gerais” foi criado por Andrea Felix em dezembro de 2016. Seu objetivo? Dar voz às mulheres que queriam cantar e poder falar, mas que não tinham oportunidade. Apesar de seus poucos meses de criação, o coletivo, formado por nove mulheres de todas as idades, gostos e lugares, já possui três músicas gravadas, tendo, duas delas, clipes no YouTube. Além das gravações em estúdio e ao ar livre, as meninas constantemente participam de eventos relacionados à cultura do Hip Hop, cantando suas ideologias feministas e revolucionárias para um público cada vez maior e gerando entusiasmo quando sua integrante Rafaela compete nas famosas Batalhas de Sangue, em que a rima improvisada garante gritos de empolgação.

Além de cantar, as garotas possuem outros talentos. Aliara Martins, por exemplo, comanda oito grupos de dança de Uberlândia; Isah Dias está sempre com seu skate por perto; Sara Cristina treina suas rimas como passatempo. Além de tudo isso, coletivo compartilha o bom humor, sempre presente em seus encontros. Rafaela Rodrigues nos conta um pouco mais sobre sua trajetória, o DMG e os problemas enfrentados pelo coletivo.

Qual a sua visão sobre o DMG e como você descreveria o coletivo?

DMG é uma família unida, um grupo de mulheres todas sonhadoras que praticamente já sofreram muitas coisas no passado e que ainda sofrem no presente; que buscam encontrar mulheres que também sofrem ou sofreram para mostrar pra elas que elas não estão sozinhas e que nós conseguimos, sim, lutar e buscar os nossos direitos, igualdade. Mostrar que merecemos esse respeito, dignidade.

Rafaela Rodrigues, integrante do DMG e competidora ativa em Batalhas de Sangue de Uberlândia.

De que modo você acha que a personalidade de cada uma de vocês ajuda a construir a identidade do grupo?

A diversidade de como cada uma pensa traz uma nova ideia, uma nova vivência. São experiências diversificadas, que fazem com que a gente pegue todas essas opiniões e pensamentos, que são totalmente diferentes uns dos outros, junte e faça uma coisa monstruosa. Pega o que a Aliara, a Ormezinda, a Andrea, Lidiane, Sara, Nardi, Luciene, Isah [integrantes do DMG] e eu vivemos, o que a gente acha, pensa sobre determinado assunto, junta e a gente entra em um acordo, em uma conclusão, ou vira um debate e saí aquela coisa fabulosa.

Quando a gente consegue um beat pra fazer a música, todas dizem: “vamos falar sobre isso”, “sobre isso”, “sobre isso”, então junta tudo e vira um bolo de vários sabores.

E o processo contrário, como é que o DMG e o Rap influenciaram você a construir sua identidade?

Me transformou em uma pessoa mais profissional como rapper, a entender o que é presença de palco que, até então, não fazia ideia do que era, a ser mais responsável com várias coisas. Eu já havia falado sobre a visão do feminismo e das mulheres no Rap e no Hip Hop; isso influenciou demais em mim porque, até então, “eu pensava na luta das mulheres?” Claro. “Fazia letras sobre isso?” Obviamente. Só que isso fez expandir quilômetros.

Em algum momento, alguém já tentou desmotivá-la por você ser uma mulher no rap?

Ah, a gente ouve uns comentários ofensivos, né?! [risos] Deboches: “ah, não, menina, que que você tá fazendo?”. Acaba que é muito aquela coisa, né? “Rap é coisa de homem, rap é coisa pra homem. Essas roupas, esse boné que você tá usando, isso é coisa de malandro, é coisa de bandido, você é uma mulherzinha”. A gente acaba ouvindo mesmo umas besteiras, uns comentários cheios de estereótipos, querendo desmotivar mesmo, mas acaba que a gente samba nas caras das inimigas tudo! [risos].

E como que o rap pode ajudar a mudar a realidade?

O rap é um estilo musical que traz verdades, que faz as pessoas abrirem os olhos, refletirem sobre o assunto que o rapper tá dizendo em tal música. A pessoa fica: “pô, será que é assim mesmo que essa música tá falando?”. E isso vai fazer com que a pessoa pense sobre o assunto que está dissertando, até que chegue a uma conclusão se é certo ou errado, se concorda ou não. De qualquer forma, traz alguma conclusão à mente dela, igual foi comigo. Eu conheci o rap nacional com cerca de 11 anos de idade; até então, não conhecia várias coisas que acontecem no mundo, a realidade, o Brasil em geral. A palavra impossível é uma arma usada por pessoas más para fazer você acreditar que nada vai mudar. Toda a realidade está, aí, com a possibilidade de nossa intervenção para que ela mude. O rap traz essa mensagem de como as coisas são e que elas podem mudar. Basta você querer lutar.

E qual a contribuição do DMG, um coletivo feminino, para o cenário do rap em Uberlândia?

Oferece muita coisa, viu? As meninas aqui de Uberlândia que nos conhecem chegam na gente cantando versos das nossas músicas. Quantas vezes já não chegaram em mim e cantaram: “ela não é puta, mano, ela é solteira”? [trecho da canção “Respeita as minas”] Isso é a melhor coisa do mundo. Em shows, em eventos, elas chegam na gente: “ou, vocês estão certinhas, parabéns pelo que vocês fazem, tem que ser assim mesmo, tem que falar mesmo, tem que bater a cara mesmo”. Não só mulheres, vários amigos homens chegaram e falaram: “é isso, aí, mesmo, mete a cara mesmo, vocês são foda’’. Então, isso traz uma coisa muito forte, até porque nós somos o primeiro grupo daqui de Uberlândia a fazer isso. Somos o único grupo de mulheres daqui e que falam sobre essas coisas. Então, a gente está trazendo muita mensagem e várias mulheres estão se identificando com o que a gente passa.


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